Deep Stops: Como e de
onde surgiram
Através
da história do mergulho, uma das maiores preocupações sempre foi como retornar
a superfície sem sofrer uma doença descompressiva. Com vista neste problema, o
fisiologista J. S. Haldane desenvolveu no início do século XX um método
hipotético de absorção e eliminação de nitrogênio e então propôs tabelas de
mergulho para orientar procedimentos de descompressão. Depois de Haldane,
muitos outros especialistas no assunto (e.g.,
A. A. Bühlmann) desenvolveram outros modelos teóricos baseados em
compartimentos teciduais. Entretanto, esses modelos orientam o mergulhador a
sair de altas profundidades o mais rápido possível (obviamente respeitando os
limites de velocidades de subida) para minimizar o acúmulo adicional de gases
inertes. Assim, as paradas descompressivas são feitas todas, a profundidades
relativamente baixas.
É
nesse contexto que entra a contribuição do ictiólogo Richard Pyle. Em meados da
década de 90, Pyle realizou centenas de mergulhos a profundidades entre 50 e 65
metros em busca de novas espécies de peixes ainda desconhecidas pela ciência. Pyle
começou a notar que após certos mergulhos era comum se sentir muito cansado,
algo fora do normal em alguns casos. Com um bom conhecimento das teorias do
mergulho ele sabia que essa indisposição tinha algo a ver com o acúmulo de
gases inertes. O interessante foi ele ter notado que os sintomas eram muito
inconsistentes. Em alguns casos não sentia nada, e em outros apresentava
sintomas intensos. Então, impulsionado pela sua formação de pesquisador, Pyle começou
a prestar mais atenção em diversos fatores de cada mergulho que pudessem
explicar suas observações, como: magnitude da exposição, tempo das paradas de
descompressão, correnteza, visibilidade, temperatura da água, o quanto ele
tinha dormido na noite anterior, desidratação, etc... Surpreendentemente nada
estava correlacionado. Foi então que ele descobriu. Nos mergulhos em que ele
coletava peixes ele não sentia nada após os mergulhos e naqueles em que ele não
coletava peixe algum os sintomas se mostravam bem fortes. Apesar de
aparentemente não fazer sentido algum a correlação era bastante forte. Pyle
então descobriu o porquê.
A
maioria dos peixes possui um órgão interno cheio de gás chamado de bexiga
natatória. Este órgão, assim como o colete equilibrador do mergulhador, é
responsável pela flutuabilidade dos peixes. Assim, ao trazer um peixe de
grandes profundidades até a superfície o gás da bexiga natatória se expandiria e
romperia, afetando também outros órgãos do peixe levando-o a morte. Como era de
interesse de Pyle manter esses animais vivos ele parava por aproximadamente 2 a
3 minutos diversas vezes a determinadas profundidades para inserir uma agulha hipodérmica
na bexiga natatória para retirar o excesso de gás. Essas paradas eram
frequentemente realizadas a profundidades maiores que as primeiras paradas
descompressivas estipuladas. Então ao realizar essas paradas em todos os seus
mergulhos profundos Pyle percebeu que os sintomas após os mergulhos não mais
ocorriam.
Na época Pyle compartilhou suas descobertas com
outros mergulhadores e a prática das deep stops (ou Pyle Stops) começou a ser amplamente
utilizada entre mergulhadores técnicos antes mesmo de ser cientificamente
provada.
Assista ao vídeo de Pyle sobre seus mergulhos
profundos, aprenda sobre o funcionamento do rebreather e mais!
Fontes
Texto: NOAA Diving Manual: Diving for Science and
Technology, Fourth Edition.
Pyle RL. 1996.
The importance of deep safety stops:
Rethinking ascent patterns from decompression dives. DeepTech. 5:64;
Cave Diving Group Newsletter.
121:2-5.
Fotos: Wikimedia Commons
http://www.oneworldoneocean.org/pages/about-us-science-advisory-council
http://adventure-naturalist.blogspot.com/2010/07/cool-people-profile-04-dr-richard-pyle.html
caraca, são materias com essa que me fazem querem ser biólogo! ótimo trabalho Sr. Raul
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