quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


Deep Stops: Como e de onde surgiram

Através da história do mergulho, uma das maiores preocupações sempre foi como retornar a superfície sem sofrer uma doença descompressiva. Com vista neste problema, o fisiologista J. S. Haldane desenvolveu no início do século XX um método hipotético de absorção e eliminação de nitrogênio e então propôs tabelas de mergulho para orientar procedimentos de descompressão. Depois de Haldane, muitos outros especialistas no assunto (e.g., A. A. Bühlmann) desenvolveram outros modelos teóricos baseados em compartimentos teciduais. Entretanto, esses modelos orientam o mergulhador a sair de altas profundidades o mais rápido possível (obviamente respeitando os limites de velocidades de subida) para minimizar o acúmulo adicional de gases inertes. Assim, as paradas descompressivas são feitas todas, a profundidades relativamente baixas.


É nesse contexto que entra a contribuição do ictiólogo Richard Pyle. Em meados da década de 90, Pyle realizou centenas de mergulhos a profundidades entre 50 e 65 metros em busca de novas espécies de peixes ainda desconhecidas pela ciência. Pyle começou a notar que após certos mergulhos era comum se sentir muito cansado, algo fora do normal em alguns casos. Com um bom conhecimento das teorias do mergulho ele sabia que essa indisposição tinha algo a ver com o acúmulo de gases inertes. O interessante foi ele ter notado que os sintomas eram muito inconsistentes. Em alguns casos não sentia nada, e em outros apresentava sintomas intensos. Então, impulsionado pela sua formação de pesquisador, Pyle começou a prestar mais atenção em diversos fatores de cada mergulho que pudessem explicar suas observações, como: magnitude da exposição, tempo das paradas de descompressão, correnteza, visibilidade, temperatura da água, o quanto ele tinha dormido na noite anterior, desidratação, etc... Surpreendentemente nada estava correlacionado. Foi então que ele descobriu. Nos mergulhos em que ele coletava peixes ele não sentia nada após os mergulhos e naqueles em que ele não coletava peixe algum os sintomas se mostravam bem fortes. Apesar de aparentemente não fazer sentido algum a correlação era bastante forte. Pyle então descobriu o porquê.
A maioria dos peixes possui um órgão interno cheio de gás chamado de bexiga natatória. Este órgão, assim como o colete equilibrador do mergulhador, é responsável pela flutuabilidade dos peixes. Assim, ao trazer um peixe de grandes profundidades até a superfície o gás da bexiga natatória se expandiria e romperia, afetando também outros órgãos do peixe levando-o a morte. Como era de interesse de Pyle manter esses animais vivos ele parava por aproximadamente 2 a 3 minutos diversas vezes a determinadas profundidades para inserir uma agulha hipodérmica na bexiga natatória para retirar o excesso de gás. Essas paradas eram frequentemente realizadas a profundidades maiores que as primeiras paradas descompressivas estipuladas. Então ao realizar essas paradas em todos os seus mergulhos profundos Pyle percebeu que os sintomas após os mergulhos não mais ocorriam.
Na época Pyle compartilhou suas descobertas com outros mergulhadores e a prática das deep stops (ou Pyle Stops) começou a ser amplamente utilizada entre mergulhadores técnicos antes mesmo de ser cientificamente provada.

Assista ao vídeo de Pyle sobre seus mergulhos profundos, aprenda sobre o funcionamento do rebreather e mais!


Fontes
Texto: NOAA Diving Manual: Diving for Science and Technology, Fourth Edition.
            Pyle RL.  1996.  The importance of deep safety stops:  Rethinking ascent patterns from decompression dives. DeepTech.  5:64;  Cave Diving Group Newsletter.  121:2-5.
Fotos: Wikimedia Commons
            http://www.oneworldoneocean.org/pages/about-us-science-advisory-council
            http://adventure-naturalist.blogspot.com/2010/07/cool-people-profile-04-dr-richard-pyle.html

Um comentário:

  1. caraca, são materias com essa que me fazem querem ser biólogo! ótimo trabalho Sr. Raul

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