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Carolina Schrappe. Recordista Sulamericana na categoria lastro constante. Foto: Noeli Ribeiro |
Em 2009, o apneísta francês Stéphane Mifsud bateu
o recorde mundial de apnéia estática ao atingir a marca de 11 minutos e 35
segundos. Em 2010, o atleta brasileiro Ricardo da Gama Bahia, respirando
oxigênio puro por mais de 20 minutos antes de seu mergulho foi capaz de
permanecer sem respirar por 20 minutos e 21 segundos. Ambas as realizações e
muitos recordes anteriores, deixam decepcionadas muitas pessoas que tentam trancar
a respiração no seco, mas que descobrem que quando dentro da água podem segurar
a respiração por um período muito maior. A explicação, muitos dizem, está
parcialmente enraizada em uma resposta fisiológica evolutiva que ajuda as focas,
baleias, lontras e outros mamíferos aquáticos, a ficarem submersos por meia hora
ou mais: o reflexo do mergulho.
Quando o rosto de um mamífero submerge em água fria e suas vias aéreas se fecham, outras mudanças desencadeadas no
sistema cardiovascular
ajudam o animal a utilizar ao máximo o oxigênio presente em seu sangue e nos pulmões. Primeiro, a frequencia
cardíaca diminui significativamente, podendo
chegar a uma redução de até 90 % em alguns mamíferos marinhos. Em humanos, a
redução é
relativamente pequena: Em um estudo de 1978, conduzido pelos pesquisadores Dexter F. Speck, hoje
professor na Universidade do Kentucky, e David S. Bruce da Faculdade de Wheaton, ficou constatado que o reflexo do mergulho pode diminuir a
frequência cardíaca das pessoas em 10 % ou mais. Ainda assim, essa mudança já é suficiente para
prolongar o momento que o mergulhador se
sente forçado
a tomar fôlego.
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Carolina Schrappe no Vertical Blue 2011 |
Em segundo lugar, o reflexo do mergulho faz com que capilares na pele e nos membros se contraiam, redirecionando o sangue da superfície do corpo para os órgãos vitais. Este deslocamento garante mais oxigênio para o cérebro e coração, mas num certo grau parece também fortificar o tórax contra os efeitos de esmagamento causados pela pressão da água a grandes profundidades. Além disso, ajuda também a preservar a temperatura do corpo em águas geladas. No entanto, uma consequência desvantajosa, é que a musculatura dos membros deve então contar mais com o metabolismo anaeróbico para continuar trabalhando, então é produzido mais ácido lático e o mergulhador cansa mais rapidamente do que se realizasse um exercício comparável na superfície.
Embora o reflexo do mergulho seja involuntário, em um estudo realizado em 2000, liderado pela pesquisadora Erika Schagatay da Universidade de Lund, na Suécia, descobriu-se que com a experiência os mergulhadores humanos poderiam aumentar significativamente a magnitude de algumas dessas mudanças e assim atrasar o ponto no qual eles têm que respirar. Esse treinamento, sem dúvida, contribuiu para as incríveis façanhas dos recordistas de apnéia.
Este texto foi extraído e traduzido de um artigo publicado em março de 2012 na revista Scientific American. Autoria de John Rennie.
Assista abaixo ao vídeo da apneísta Carolina Schrappe quebrando o recorde Sulamericano (74 m) na modalidade de lastro constante, a mais tradicional no mergulho livre.
Quer aprender mais sobre apnéia?
Acesse: http://www.carolschrappe.com
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